Algumas cidades fogem a ideia de serem somente o pano de fundo de uma trama cinematográfica e se tornam a personagem principal. A gloriosa Los Angeles é um clássico exemplo disso. Los Angeles – A Cidade Proibida (LA Confidential) de Curtis Hanson, explora a polícia corrupta, a prostituição e a máfia de forma direta e violenta. Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive) é uma trama de jogos psicológicos, que mostra um crime e a ascensão dos famosos de Hollywood, dirigida por ninguém menos que David Lynch.

Crash – No Limite conta com vários núcleos dramáticos, aparentemente sem conexão, que se encaixam com agilidade para mostrar que, novamente, a personagem é Los Angeles. A direção de Paul Haggis é específica ao usar o preconceito pulsante da cidade para direcionar o filme.

Cada sociedade cria seu conceito de moral. A definição é atemporal e baseada na hierarquia construída e imposta na época em questão. Robert Moresco e o próprio Paul Haggis trazem ao público um roteiro objetivo que retrata como o preconceito está embutido em uma falsa moral. Não é simples quebrar a barreira da origem e fazer com que diversos povos convivam em paz.

Um acidente. Então o público é levado aos acontecimentos que antecedem o fato. Um policial abusa do poder ao parar um casal negro e acariciar a mulher em uma suposta revista. O fato abala o relacionamento do casal. A madame de classe média que despeja sua raiva em seu empregado, o chaveiro mexicano. A desorientação da senhora é um exemplo de que o puritanismo do “American Way Of Life” é apenas sonho e que a moral imposta pela burguesia não é seguida pela própria. A dupla de assaltantes negra questiona a própria ética no que fazem. E o policial honesto que encontra a si em uma situação extrema.

Ao decorrer da junção de histórias é fácil perceber que esse não é mais um daqueles filmes estadunidenses que tratam do racismo como se houvesse somente casos isolados em lugares pobres na terra do Tio Sam. Muito menos sobre o clima de medo e tensão nos EUA pós-11 de setembro. E, apesar de um dos núcleos mostrar uma família persa que tenta fixar suas raízes após o atentado, a história vai além de qualquer situação de ética específica.

O truque da trama é o uso do preconceito existente na cidade para se referir ao sentimento de forma universal. Exibindo como os diversos fatores externos contribuem na constituição das pessoas em diferentes culturas. A idéia é que os pré-conceitos estão infiltrados desde pequenas situações até as maiores em todas as classes sociais.

Caucasianos (ou brancos), os negros, os latinos, os árabes (e no filme incluem-se os muçulmanos), chineses, porto-riquenhos e os tailandeses não são estereotipados, são retratados como seres humanos capazes de se transformar. Os ricos, os pobres, os ladrões e os policiais estão em qualquer lugar, não há a “raça” bondosa ou bandida.

Paula Zanella

Qual foi o primeiro filme que você viu no cinema?

Meus pais me levaram ao cinema mais próximo, que era na cidade ao lado. Lembro-me de ter faltado na aula. E apesar de ter apenas cinco anos recordo exatamente de como foi o dia.

Minha mãe me acordou e me fez vestir uma roupa de sair. Sabe daquelas que é separada no guarda-roupa só para ocasiões especiais? Então! Almoçamos e fomos levar meu irmão na escola. Ele ficou intrigado do porque de eu faltar e ele não! Eu estava em uma agonia imensa: até aquele momento eu não sabia pra onde estava sendo levada. Eu queria saber logo, né? Era algo como aquela cena do Shrek em que o Burro fica perguntando “já estamos chegando?”. E que comparação!

Enfim chegamos em algum lugar: o shopping. Nada de impressionante hoje em dia (nada mesmo!), mas na época… De qualquer forma, eu ainda achava tudo estranho e estava naquele mesmo esquema de Burro.Quando entramos na fila da bilheteria fiquei em um estado de emoção enorme. Eu só tinha cinco anos (eu podia ficar daquele jeito)!

O filme era Rei Leão. O primeiro, claro. Um clássico das produções Disney, que estavam no auge. Era realmente o império do Mickey dentro da cabeça das crianças e dos pais delas. Ah! E quem não lembra do ciclo sem fim? Do Timão e do Pumba? Sim, Rei Leão é um clássico.

Fiquei fascinada com a tela gigante, com as poltronas vermelhas, com o som, a imagem. O sarcasmo do Scar. A briga pelo trono da selva. E isso me deixava muito nervosa! Por que o leão tem que ser sempre o rei? Os sulicates são tão engraçadinhos. Não quero analisar o filme. Senão perco a magia da infância.

Hakuna Matata

Paula Zanella

Vida Alheia

15/08/2009

A Fazenda, Big Brother Brasil, No Limite… A televisão está cheia de espaço para que câmeras ocultas observem o comportamento humano.

O Show de Truman

(The Truman Show. Estados Unidos. 1998)

Peter Weir (A Sociedade dos Poetas Mortos, A Testemunha) faz um favor para a sessão comédia dos cinemas e dirige Jim Carrey em um drama. O ator é Trunman Burbank, um simples (e quase patético) vendedor de seguros que percebe certa incoerência em seu cotidiano.

O Show de Truman retrata a obsessão em bisbilhotar a vida alheia. Truman é filmado desde o dia em que nasceu. Praticamente um reality show: o Truman Show. O fato é que o “astro” da realidade televisionada não sabe disso, apesar de todos que vivem com ele saberem. A falta de espontaneidade das pessoas ao seu redor, descuidos dos figurantes e pequenas falhas na produção fazem com que ele comece a refletir sobre seu perfeito cotidiano.

O vendedor vive em um mundo virtual comandado por Christof (Ed Harris), o chefão da produção. A crítica do filme reside justamente nessa “vida-prisão” em que a personagem principal se encontra. Ele é um boneco manipulado pelas ações da produção com uma falsa individualidade, independência e liberdade. Assim que ele percebe a caverna em que vive, tenta achar a luz, a compreensão. Porém sempre é jogado de volta ao velho convívio de pessoas bitoladas em todos os passos do programa.

A história tem a reflexão e a comoção que Peter Weir sabe colocar em um filme. Truman fica inconsolável quando descobre que é vigiado. As reações emocionais causada pelo show no público são uma análise do poder de influência da mídia. O espectador respira em um sistema arquitetado pelos meios de comunicação vigentes. Na maioria das vezes, o público responde de acordo com o que o sistema midiático previu.

Truman Burbank não tem culpa de ter sido vendido no primeiro dia de vida para um canal de TV e quanto mais de ter seu dia a dia televisionado desde então. As pessoas que assistem ao seu show não sabem desse fato. Porém isso não é escudo: assim como o espectador, o “astro” é um ser humano. Todos os valores de moral e ética que são impostos na sociedade ocidental atualmente são derrubados quando o programa começa. Os meios de comunicação ditam regras que devem ser rigorosamente seguidas, mas as encaixa de forma tão sutil em nosso cotidiano que quando se nota já se vive dentro delas.

Consumismo e materialismo? Relações comerciais. Divisão da sociedade em classes? É cômodo. Guerras? Precisamos alimentar interesses econômicos. Relações superficiais para se criar uma teia social? Ninguém precisa de mais que isso. Reality Shows? Dá ibope.

Paula Zanella

São Paulo, janeiro de 2006: Carolina de Paula Farias dos Santos, 23 anos, é ex-estagiária da Petrocoque (empresa petroquímica de Cubatão). Ela foi presa por ter mandado matar duas antigas colegas. Motivo? Carolina estava obstinada a ter um emprego na empresa para ficar mais próxima de um funcionário, com quem se suspeita um caso extraconjugal.

Baseado no livro The Ax de Donald E. Westlake, aqui está o filme O Corte. Uma representação do que também acontece no Velho Mundo.

O Corte

(Le Couperet. França. 2005)

Na Grécia Antiga, Platão desenvolveu o termo meritocracia. Ele definiu uma sociedade que preza a meritocracia como aquela que valoriza a sabedoria que cada indivíduo consegue adquirir para uma melhor posição dentro da pirâmide social. Independente disso fazer com que um indivíduo tenha mais vantagem econômica sob outros. O capitalismo justifica sua selvageria com a meritocracia. Quem estuda e adquire sabedoria suficiente consegue promoção para uma classe social superior. Não há motivos para se importar com aquele que ficou em desvantagem social e econômica nessa lógica. Como conseguir essa sabedoria? Uma educação de qualidade é claro! Mas e aqueles que não tem condições de ter uma boa educação ficam como dentro desse monte de gente que só se interessa por valores individuais? E em que lugar ficam aqueles que tiveram o devido estudo, porém foram engolidos por reciclagens capitalistas?

O filme O Corte é a sétima arte representando as conseqüências agonizantes da globalização em uma família francesa. Costa – Gavras dirige uma inteligente crítica aos métodos capitalista que pressionam o cotidiano da população mundial, especificamente em uma família “normal”. A história retrata os efeitos que a divisão de classes tem em todo mundo, até na classe média alta da França. Nada como observar a normalidade de um “lar doce lar”: um pai desempregado, uma mãe solitária, um filho iniciante no mundo do roubo e uma filha vítima da própria sensualidade imatura.

José Garcia interpreta brilhantemente o sem caráter Bruno Davert, um executivo da indústria de papel que se vê obrigado a pisar no próprio orgulho quando o desemprego bate na porta. Depois de um tempo insuportável de entrevistas sem respostas positivas, nenhuma possível proposta de trabalho e as constantes crises com sua esposa e seu filho, Davert chega ao ponto extremo do desespero e parte para uma ação impulsiva. Ele começa a arrecadar currículos de possíveis concorrentes a cargos como o do seu antigo trabalho para analisar cada detalhe dos candidatos. Então faz sua personalizada pré-seleção e os convoca para simplesmente matá-los. No início é difícil, afinal assassinar seres humanos não é tarefa fácil. Mas sua habilidade homicida vai crescendo e agilizando seu objetivo. Sua vaidade não deixa que conte o fato a sua família e faz com que ele minta sobre seu novo e agitado cotidiano. O final do filme é irônico e nos faz refletir sobre ações e reações.

Paula Zanella

Abstração

21/06/2009

O cinema surge como tentativa de reproduzir a vida real em uma tela. O público é levado a outro mundo, onde tudo retratado pode ser real, porém, naquele momento, nada pode atingi-lo. Ele está abstraído naquilo.

A reprodução do cinema em larga escala no século XX trouxe a possível disseminação da sétima arte. Qualquer lugar do mundo pode ter, em princípio, acesso a qualquer filme. Há uma comunicação cultural entre as diferentes nacionalidades.

Porém este intercâmbio cinematográfico pode ser atrapalhado e até mesmo impedido por relações econômicas pré-estabelecidas. Além das relações de dominação cultural. Dado tamanha importância, há de se esperar que este tenha uma enorme influência com sua ideologia também. No final, cinema é mais um meio de comunicação, portanto serve como meio de distribuição de cultura, mas também de manipulação.

Hitler, na Segunda Guerra Mundial, ordenou que fossem produzidos filmes que subjugassem os judeus, negros e homossexuais. Películas que judeus eram comparados a ratos é uma amostra da degradante filosofia nazista. Sua ideologia estava inserida naqueles filmes. Eles o ajudaram a enraizar o preconceito da raça ariana com as demais.

A desproporcional quantidade de filmes produzidos ou co-produzidos por outros países, e principalmente pelos Estados Unidos, que passam nos cinemas do Brasil é resultado do trabalho de implantação de Blockbusters das distribuidoras multinacionais. Porém o público não exige esse tipo de filme com mais frequência sem nenhuma bagagem cultural já inserida. Já existe no contexto cultural brasileiro uma predileção por filmes hollywoodianos e comerciais em geral, que vem de séculos de absorção de estrangeirismos.

 

Paula Zanella

Vazio

19/06/2009

Viver de lembranças não é exatamente fácil. Como olhar para frente quando o passado é tudo que se vê? Por mais difícil que seja sobreviver, e por mais clichê que isso pareça ser, olhar pra frente é mais útil. As lembranças devem ser apenas lembranças e não a vida que acontece agora. Porém é lógico que elas são importantes: elas constroem (mesmo que sem querer) o ser humano que as possui. Mas e quando a memória falha?

 Iris

(Iris. Inglaterra. 2001)

As mãos de Richard Eyre estão na direção de Notas de Um Escândalo (2006), A Bela do Palco (2004) e Iris.  Os dois primeiros filmes são ótimos. Destaque para a calorosa discussão que acontece em Notas de Um Escândalo. Porém Iris é uma obra prima digna de qualquer coleção de cinéfilos.

Além da direção de Richard Eyre, o filme tem a produção de Robert Fox e Scott Rudin. É roteirizado brilhantemente escrito por Charles Wood e pelo próprio Richard Eyre, baseado no livro Iris – A Memoir and Elegy for Iris, de John Bailey.

O filme é uma mescla de lembranças espalhadas se misturando com a realidade de uma mulher que perde suas memórias por conta do Mal de Alzheimer no começo dos anos 90. Iris retrata a história verídica da romancista e filósofa irlandesa Iris Murdoch, que viveu entre 1919 e 1999.

Toda tristeza que a doença traz a vida da pensadora e de quem está ao seu redor faz parte da emoção que o filme traz. O excepcional elenco faz com que a transmissão de sentimentos fique mais bela e natural.

A Iris mais nova (Kate Winslet em perfeita conexão com a personagem) é um ousado quebra-cabeça impossível de ser montado. Ninguém nunca soube de todos seus segredos. A profundidade de suas palavras demonstra sua espirituosidade, inteligência e seu jeito particular de viver.

Na juventude ela conhece John Bailey (Jim Broadbent), com quem começa um relacionamento que irá durar até o último dia de sua vida. A história mostra os pontos cruciais da relação dos dois quando jovens e depois mais velhos, focando na convivência dos companheiros durante o início da doença. Judi Dench interpreta uma difícil Iris mais velha. Cuidar dela se transforma na principal função de John. Muitas consequências da doença da mulher o entristecem, mas seu amor por ela transcende qualquer momento de dificuldade que passa.

Paula Zanella

Mera Coincidência

(Wag the Dog. EUA. 1997)

Candidato e atual presidente dos EUA é acusado de abuso sexual as vésperas das eleições. O grupo responsável pela boa imagem do presidente enfrenta o tempo ao resolver o problema voltando à atenção da mídia para uma falsa guerra. Com a ajuda de um produtor de Hollywood, a imprensa muda o foco para a guerra o que aumenta as chances do atual presidente ganhar o segundo mandato.

Imagine um meio de comunicação. Agora imagine que esse meio de comunicação seja de grande acesso, o cinema, por exemplo. Como se não bastasse, imagine que esse meio seja utilizado para fazer uma crítica à sociedade estadunidense. E agora, imagine que essa crítica seja sobre alguns “detalhes” que envolvem a mídia: sua má atuação em situações perigosas, seu poder de credibilidade e proliferação de idéias falsas e rótulos e sobre a sociedade frágil que é manipulada pela mesma. Sorrindo, imagine que essa crítica tenha vindo de um próprio estadunidense. Force um pouco mais a imaginação e viaje para uma situação em que isso ocorra de forma simultânea e que resulte numa ótima película. Difícil de acontecer, mas acontece. Quando o universo conspira a favor os excêntricos de Hollywood conseguem espaço para fazer e divulgar seu trabalho. Um filho da exceção hollywoodiana é Mera Coincidência de 1997. O filme é um daqueles bons, e raros, casos em que cinema e política se encontram para falar a verdade e deixar as situações um pouco mais claras.

Tão minuciosa crítica sobre a política estadunidense só poderia ser feita por um time de mentes brilhantes que tem potencial e visão aguçada para tal. Mentes essas que tiveram a audácia de levar ao cinema uma história que traz outro ponto de vista das verdades da mídia e do governo da terra do Tio Sam. Do mesmo diretor de Bugsy, fantástico relato da vida do gângster de nome homônimo, Barry Levinson, está novamente com seus olhos voltados para o que sabe fazer melhor: medir fatos e conseqüências com extrema qualidade e senso crítico. Levinson também assina na produção junto com Robert De Niro (como produtor pela quarta vez, depois de As Filhas de Marvin) e Jane Rosenthal (que já trabalhou com De Niro em As Filhas de Marvin). Para completar o fabuloso time por trás das câmeras vem o ágil roteiro de David Mamet (Os Intocáveis) e Hilary Henkin.

Baseado no livro American Hero de Larry Beinhart, a história original sugere que a Guerra do Golfo foi uma encenação para esconder as atenções da mídia, conseqüentemente da população, da ruim administração do Bush pai. Então vem a excentricidade dos progenitores de Mera Coincidência em conduzir a história com outro pano de fundo: para abafar o escândalo de um presidente ter abusado de uma menina Vaga Lume que estava visitando a Casa Branca, uma guerra é inventada. A coincidência reside no fato de que após o lançamento do filme estoura o escândalo sexual do, até então presidente, Bill Clinton e sua secretária Mônica Lewinshy. Assim como na ação militar que os EUA e seus aliados efetuaram no Iraque, por este ter invadido o Kwait. Feliz é a tradução brasileira de Mera Coincidência para o título que seria, numa tradução livre, “Balance o Cachorro”. 

Robert De Niro (dois anos depois de sua última ótima atuação em Cassino) está impagável ao usar sua veia cômica interpretando Conrad que ao lado da insegura Winifre Ames (Anne Heche, mediana como sempre) lideram uma equipe encarregada de fazer uma boa imagem do presidente, principalmente agora em que ele está concorrendo ao seu segundo mandato. Porém se deparam com um problema quando às vésperas das eleições o presidente e candidato é acusado de assediar uma menina. As emissoras de TV e rádio, o jornal impresso e a mídia em geral começam com o seu poderoso alarme sobre o caso. Logo que Conrad vê que o escândalo irá estourar com a primeira notícia a ir ao ar começa a arquitetar um plano para atrair a atenção da mídia para outro foco. A lógica do pensamento de Conrad é inteligente: como todo mundo (literalmente) acredita no que a imprensa diz, é só fazer com que a imprensa diga outra coisa para todos acreditarem também e esquecerem do fato trágico. O plano de Conrad é basicamente fazer um filme de guerra. Criar uma luta armada contra a Albânia (um país pouco conhecido), desviando a atenção da mídia estadunidense e, por conseqüência, do povo. Com isso, a mídia será manipulada e, sem que ele precise fazer esforços, o povo estadunidense também. Com uma idéia brilhante na cabeça e a ajuda de Winifre, tudo que Conrad precisa é das pessoas certas para por em prática.

            Então entra em cena nada mais nada menos que Dustin Hoffman, sim, aquele ator que adora uma boa junção do cinema e da polítca (haja vista Todos os Homens do Presidente e Kramer vs Kramer). Em Mera Coincidência, Hoffman é Stanley Motss, um produtor de Hollywood que nada em rios de dinheiro, mas reclama do crédito que não recebe da mídia por seu trabalho nas produções cinematográficas. Essa orgulhosa necessidade de receber crédito trará problemas a Stanley mais tarde.

Conrad faz uma proposta irrecusável a Stanley: comandar a produção de um grande espetáculo que deve parecer realidade. Dever irresistível nas mãos de um produtor que tem seus filmes como superações do próprio cinema. Tão logo lhe é dada à missão Stanley já começa a trabalhar juntando um inteligente e forte time que deve “fazer uma guerra acontecer” em 11 dias. O time é composto por ele mesmo, figurinistas, maquiadores, operadores de produção, compositores,uma atriz, Winifre, o próprio presidente (que decide somente as coisas muito importantes como a cor do gato a ser usado) e é dirigido, sem que ninguém perceba, pela astúcia de Conrad. Um conceito iluminado explicitado no filme é a fácil manipulação do povo pela mídia que pode ser exemplificado com um dos ápices de criatividade e esperteza vem do próprio “diretor” do falso filme. Ao ouvir os músicos brincarem com palavras numa canção no intervalo das gravações, vê a música tema do herói de guerra. Uma música que a produção fez parecer antiga e que sua letra brinca com a sonoridade do herói.

“Isso não é nada”, sempre diz Stanley quando um problema surge. Começar, desenrolar e finalizar uma guerra com direito a herói parece ser nada para este produtor.

Ao final do filme ficamos com aquela impressão, que infelizmente sabemos que é real, de que a mídia tenta, e ás vezes consegue, nos manipular grande parte do tempo. Ainda refletimos mais longe quando pensamos que a mídia também pode ser manipulada quando assim é de interesse de alguém e que isso reflete novamente em nós, o povo.

 

 

Paula Zanella

Caixa da Pandora

31/05/2009

Fique a vontade.

Não quero falar de pretensões por aqui. Será minha simples e humilde opinião.

Paula Zanella