Vida Alheia

15/08/2009

A Fazenda, Big Brother Brasil, No Limite… A televisão está cheia de espaço para que câmeras ocultas observem o comportamento humano.

O Show de Truman

(The Truman Show. Estados Unidos. 1998)

Peter Weir (A Sociedade dos Poetas Mortos, A Testemunha) faz um favor para a sessão comédia dos cinemas e dirige Jim Carrey em um drama. O ator é Trunman Burbank, um simples (e quase patético) vendedor de seguros que percebe certa incoerência em seu cotidiano.

O Show de Truman retrata a obsessão em bisbilhotar a vida alheia. Truman é filmado desde o dia em que nasceu. Praticamente um reality show: o Truman Show. O fato é que o “astro” da realidade televisionada não sabe disso, apesar de todos que vivem com ele saberem. A falta de espontaneidade das pessoas ao seu redor, descuidos dos figurantes e pequenas falhas na produção fazem com que ele comece a refletir sobre seu perfeito cotidiano.

O vendedor vive em um mundo virtual comandado por Christof (Ed Harris), o chefão da produção. A crítica do filme reside justamente nessa “vida-prisão” em que a personagem principal se encontra. Ele é um boneco manipulado pelas ações da produção com uma falsa individualidade, independência e liberdade. Assim que ele percebe a caverna em que vive, tenta achar a luz, a compreensão. Porém sempre é jogado de volta ao velho convívio de pessoas bitoladas em todos os passos do programa.

A história tem a reflexão e a comoção que Peter Weir sabe colocar em um filme. Truman fica inconsolável quando descobre que é vigiado. As reações emocionais causada pelo show no público são uma análise do poder de influência da mídia. O espectador respira em um sistema arquitetado pelos meios de comunicação vigentes. Na maioria das vezes, o público responde de acordo com o que o sistema midiático previu.

Truman Burbank não tem culpa de ter sido vendido no primeiro dia de vida para um canal de TV e quanto mais de ter seu dia a dia televisionado desde então. As pessoas que assistem ao seu show não sabem desse fato. Porém isso não é escudo: assim como o espectador, o “astro” é um ser humano. Todos os valores de moral e ética que são impostos na sociedade ocidental atualmente são derrubados quando o programa começa. Os meios de comunicação ditam regras que devem ser rigorosamente seguidas, mas as encaixa de forma tão sutil em nosso cotidiano que quando se nota já se vive dentro delas.

Consumismo e materialismo? Relações comerciais. Divisão da sociedade em classes? É cômodo. Guerras? Precisamos alimentar interesses econômicos. Relações superficiais para se criar uma teia social? Ninguém precisa de mais que isso. Reality Shows? Dá ibope.

Paula Zanella

Vazio

19/06/2009

Viver de lembranças não é exatamente fácil. Como olhar para frente quando o passado é tudo que se vê? Por mais difícil que seja sobreviver, e por mais clichê que isso pareça ser, olhar pra frente é mais útil. As lembranças devem ser apenas lembranças e não a vida que acontece agora. Porém é lógico que elas são importantes: elas constroem (mesmo que sem querer) o ser humano que as possui. Mas e quando a memória falha?

 Iris

(Iris. Inglaterra. 2001)

As mãos de Richard Eyre estão na direção de Notas de Um Escândalo (2006), A Bela do Palco (2004) e Iris.  Os dois primeiros filmes são ótimos. Destaque para a calorosa discussão que acontece em Notas de Um Escândalo. Porém Iris é uma obra prima digna de qualquer coleção de cinéfilos.

Além da direção de Richard Eyre, o filme tem a produção de Robert Fox e Scott Rudin. É roteirizado brilhantemente escrito por Charles Wood e pelo próprio Richard Eyre, baseado no livro Iris – A Memoir and Elegy for Iris, de John Bailey.

O filme é uma mescla de lembranças espalhadas se misturando com a realidade de uma mulher que perde suas memórias por conta do Mal de Alzheimer no começo dos anos 90. Iris retrata a história verídica da romancista e filósofa irlandesa Iris Murdoch, que viveu entre 1919 e 1999.

Toda tristeza que a doença traz a vida da pensadora e de quem está ao seu redor faz parte da emoção que o filme traz. O excepcional elenco faz com que a transmissão de sentimentos fique mais bela e natural.

A Iris mais nova (Kate Winslet em perfeita conexão com a personagem) é um ousado quebra-cabeça impossível de ser montado. Ninguém nunca soube de todos seus segredos. A profundidade de suas palavras demonstra sua espirituosidade, inteligência e seu jeito particular de viver.

Na juventude ela conhece John Bailey (Jim Broadbent), com quem começa um relacionamento que irá durar até o último dia de sua vida. A história mostra os pontos cruciais da relação dos dois quando jovens e depois mais velhos, focando na convivência dos companheiros durante o início da doença. Judi Dench interpreta uma difícil Iris mais velha. Cuidar dela se transforma na principal função de John. Muitas consequências da doença da mulher o entristecem, mas seu amor por ela transcende qualquer momento de dificuldade que passa.

Paula Zanella