Os Limites da Cidade

27/03/2010

Algumas cidades fogem a ideia de serem somente o pano de fundo de uma trama cinematográfica e se tornam a personagem principal. A gloriosa Los Angeles é um clássico exemplo disso. Los Angeles – A Cidade Proibida (LA Confidential) de Curtis Hanson, explora a polícia corrupta, a prostituição e a máfia de forma direta e violenta. Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive) é uma trama de jogos psicológicos, que mostra um crime e a ascensão dos famosos de Hollywood, dirigida por ninguém menos que David Lynch.

Crash – No Limite conta com vários núcleos dramáticos, aparentemente sem conexão, que se encaixam com agilidade para mostrar que, novamente, a personagem é Los Angeles. A direção de Paul Haggis é específica ao usar o preconceito pulsante da cidade para direcionar o filme.

Cada sociedade cria seu conceito de moral. A definição é atemporal e baseada na hierarquia construída e imposta na época em questão. Robert Moresco e o próprio Paul Haggis trazem ao público um roteiro objetivo que retrata como o preconceito está embutido em uma falsa moral. Não é simples quebrar a barreira da origem e fazer com que diversos povos convivam em paz.

Um acidente. Então o público é levado aos acontecimentos que antecedem o fato. Um policial abusa do poder ao parar um casal negro e acariciar a mulher em uma suposta revista. O fato abala o relacionamento do casal. A madame de classe média que despeja sua raiva em seu empregado, o chaveiro mexicano. A desorientação da senhora é um exemplo de que o puritanismo do “American Way Of Life” é apenas sonho e que a moral imposta pela burguesia não é seguida pela própria. A dupla de assaltantes negra questiona a própria ética no que fazem. E o policial honesto que encontra a si em uma situação extrema.

Ao decorrer da junção de histórias é fácil perceber que esse não é mais um daqueles filmes estadunidenses que tratam do racismo como se houvesse somente casos isolados em lugares pobres na terra do Tio Sam. Muito menos sobre o clima de medo e tensão nos EUA pós-11 de setembro. E, apesar de um dos núcleos mostrar uma família persa que tenta fixar suas raízes após o atentado, a história vai além de qualquer situação de ética específica.

O truque da trama é o uso do preconceito existente na cidade para se referir ao sentimento de forma universal. Exibindo como os diversos fatores externos contribuem na constituição das pessoas em diferentes culturas. A idéia é que os pré-conceitos estão infiltrados desde pequenas situações até as maiores em todas as classes sociais.

Caucasianos (ou brancos), os negros, os latinos, os árabes (e no filme incluem-se os muçulmanos), chineses, porto-riquenhos e os tailandeses não são estereotipados, são retratados como seres humanos capazes de se transformar. Os ricos, os pobres, os ladrões e os policiais estão em qualquer lugar, não há a “raça” bondosa ou bandida.

Paula Zanella

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